Ultimas


13/05/2024

VELHAS HISTÓRIAS DOS BORDÕES DE PRESIDENTE VARGAS VEJA

Bordão

“Que maravilha!” costuma exclamar Pe. Zezinho ao reconhecer uma atitude simples de pessoas que o circundam. Apesar de simples, a atitude carrega positividade, que encanta.  Em outros momentos, demonstra uma pitada de ironia seguida de uma gargalhada para desanuviar o fio de malicia contido intencionalmente na frase. Gosto de identificar tal significado diluído no contexto de uso da fala.

O interlocutor ao perceber o segundo sentido, poderia, com todo respeito ao clérigo, replicá-lo: “tu é doido, doido!” tal ênfase geraria, com certeza, longas gargalhadas e aproximaria ainda mais os falantes, o ambiente ficaria mais leve e a socialização fluiria nas segundas intenções. Assim, com este elo “de paladar de pensamento”, haveria repetidas lembranças do momento irônico e as pessoas se manteriam brincalhonas e alegres por mais tempo, o que seria “muito bom! Muito bom mesmo!”.

Caso o interlocutor não entendesse a má intenção, poderia estranhar ao expressar um “êh êh, num tô entendendo!” e seguia de um tempo de silêncio para acentuar a incompreensão. Isto é possível devido à distração; ou talvez seja uma habilidade do interlocutor ao devolver a fina ironia ao se fazer de desentendido. Tudo pode acontecer, pois “na terra de sapo, de cócoras com ele!”.

Ao falar em terra, Balbino usa a ironia às avessas e direta com a palavra “fula”. “Os fulas” da vida, no dizer de Balbino, seriam os cabras fracos, frouxos, desengonçados que não   teriam coragem de enfrentar a vida como ela exige; Sua expressão facial combinava bem com a prosa. Ao se aproximar da casa de Filoca, nas terras de Bela Vista, já gritava “êh fula, tu ainda é macho mesmo?” A partir daí o tempo se fechava: investidas sutis e maliciosas, revides, gargalhadas marcavam o momento entre os dois vizinhos e amigos, ambos já idosos.

De longe ou de perto, prestava atenção no jeito singular de eles conversarem, de levarem vida na brincadeira, de driblarem as tristezas, as angustias, os medos com seu antídoto: a alegria. Um modo sábio de viver é  a sincera amizade, essa lição valiosa eles nos legaram.

Outro homem bem quisto era Manoel Portela. Ele próprio dizia que em Presidente Vargas, o sujeito deveria se livrar de três coisas: “da carroça de Macaíba, da sacola de Lindoca  e da língua de Manoel Portela”. Na percepção de Manoel, Macaíba punha na carroça tudo que lhe interessava: areia, pedra, tijolos, madeira; Lindoca, negra bem querida na cidade, por sua vez, era sempre vista com uma grande sacola de pano que ela mesma costurava. Nela cabia tudo o que lhe dava: presente, roupa para consertar, folhas e raízes para garrafadas e até comida; já o Sr.  Manoel, tinha uma voz mansa e gostava de tricotar a vida de todos que seus olhos alcançavam. Depois de comentários, muitos deles espirituosos, sobre quem ele nomeava, dava uma gargalhada sarcástica para encerrar o assunto.

Diferente do “Confusão”, apelido dado a um compadre, o “Espalha Brasa”, um irmão-compadre, era espalhafatoso, um “fula” no sentido literal. Numa determinada ocasião de desentendimento, trouxe para o meio da rua, mesa, radiola, televisão e outros objetos a mais e  ateou-lhes fogo, pegou uma cadeira, sentou perto, não sei se com uma espingarda nas pernas e contemplou as labaredas  consumirem o que com muitos esforços foram comprados. Dessa atitude herdou o apelido.

Noutra direção, um saudoso “poeta”, ao lembrar o seu tempo de juventude, num povoado que sempre frequentara nos tempos de fartura e de moças bonitas, da representatividade sócio-político local, e numa visão aeroespacial, bradou: ”Quem és tu, Gaiolinha?”, para denunciar a situação de abandono do poder público. E lembrando as épocas  de glória, bradou novamente: “Quem foste tu, Gaiolinha ?”, “Quem foste tu...”

 Esse eco  ainda ressoa nas terras dos Daréo,  que já produziu muita “gente boa” que marcou a História, um deles é o “filósofo” negro da esperança, homem de muitas prosas, anedotas, resenhas, causos, pilheiras. Uma das prosas que lhe causavam sentimentos contraditórios era quando falava de sua primeira mulher, um amor vivido com alegria, intensidade, completude.  Falava alto, ria  e chorava com frequência; e sempre, mas sempre mesmo, em geral nas mesas de bar, levantando o braço direito e com o indicador riste, concluía suas histórias com o famoso bordão  “Quem viver, verá!”, “Quem viver, verá!” dizia Moraizão.

JORNALISTA JOSINALDO SOARES REGISTRO:0001662/MA

FONTE: PROFESSOR J. ATAILSON.  

Postar um comentário

 
Copyright © 2024 Blog da Mucambo